Carbono, cálcio e matéria orgânica para a sustentabilidade
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15 julho, 2025

Carbono, cálcio e matéria orgânica para a sustentabilidade

A importância da nutrição vegetal e do controle da acidez no solo para aumentar o estoque de carbono do solo e minimizar os gases do efeito estufa.

O sequestro de carbono na agricultura representa uma das estratégias mais promissoras para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, mediante a redução da concentração de CO₂ na atmosfera — principal gás de efeito estufa. Esse processo ocorre fundamentalmente por meio das plantas e da matéria orgânica do solo, elementos centrais de sistemas conservacionistas como o Plantio Direto e a Ferticorreção. A presença de carbono orgânico no solo desempenha papel fundamental na regulação dos atributos físicos, químicos e biológicos do sistema solo-planta, constituindo-se como pilar para a sustentabilidade dos agroecossistemas tropicais.

As plantas, por meio da fotossíntese, capturam o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, absorvem água (H2O) do solo e, utilizando a energia da luz solar, convertem essas moléculas em glicose (C6H12O6) e oxigênio (O2). A reação pode ser representada pela equação:

6 CO2+ 6 H2O + luz solar → C6H12O6 + 6 O2

Parte do carbono fixado nas estruturas vegetais é translocado para as raízes e exsudado no solo, alimentando microrganismos e participando de processos como o efeito priming. A retenção efetiva de carbono ocorre principalmente pela transformação da biomassa vegetal (resíduos de raízes, palha e exsudatos) em matéria orgânica do solo (MOS), que pode permanecer estável por anos ou até séculos, desde que adequadamente protegida em sistemas conservacionistas.

Ao capturar CO2 atmosférico e estabilizá-lo no solo na forma de carbono orgânico, o sistema agrícola atua como sumidouro de carbono, com implicações diretas:

  1. Redução do efeito estufa: Menor concentração de  COna atmosfera;
  2. Menor emissão de  CO por oxidação da MOS: Sistemas conservacionistas, como o plantio direto bem manejado, evitam a exposição da matéria orgânica ao ar, reduzindo a decomposição acelerada e a liberação de  CO;
  3. Resiliência climática: Solos com mais carbono apresentam maior capacidade de infiltração e retenção de água, tornando os sistemas mais resistentes a secas e chuvas intensas.

 

O carbono nos atributos do solo

O carbono orgânico do solo (COS) atua como principal agente regulador da fertilidade dos solos tropicais e subtropicais, estabelecendo-se como elo central entre os atributos físicos, químicos e biológicos.

Do ponto de vista físico, o carbono está diretamente envolvido na formação e estabilidade dos agregados do solo. As substâncias húmicas oriundas da decomposição da matéria orgânica possuem cargas negativas que interagem com os óxidos de ferro (Fe3+) e alumínio (Al3+), além das argilas do tipo 1:1, formando pontes que cimentam as partículas do solo e originam macroagregados estáveis. A ausência desse elemento resulta em desagregação, aumento da densidade, redução da macroporosidade e menor infiltração de água, resultando em maior resistência à penetração das raízes.

Quimicamente, o carbono participa da geração de cargas negativas que constituem a Capacidade de Troca Catiônica (CTC). A contribuição da matéria orgânica para a CTC pode variar de 70 a 90%, especialmente em solos altamente intemperizados. Essa CTC é essencial para a retenção de nutrientes como Ca2+, Mg2+ e K+, além de complexar o Al3+, reduzindo sua toxicidade. 

Biologicamente, o carbono representa a principal fonte de energia para a microbiota do solo. A presença de raízes vivas e matéria orgânica promove a liberação de exsudatos e o estímulo do efeito priming, que ativa microrganismos solubilizadores de nutrientes e intensifica a decomposição da matéria orgânica, reciclando nitrogênio, fósforo e enxofre. O carbono também influencia diretamente a biodiversidade microbiana, impactando positivamente a atividade de enzimas como arilsulfatase, beta-glicosidase e fosfatase ácida, indicadores diretos da saúde do solo.

 

A correção do solo e o cálcio para estabilização do carbono

Nos solos brasileiros, é comum a presença de Fe e Al como principais cátions ligantes na ausência de correção e controle de acidez. Entretanto, esses elementos promovem ligações menos estáveis e podem favorecer a formação de compostos organo-minerais que tornam o fósforo indisponível. A substituição parcial desses cátions por Ca2+, Mg2+ e K+ melhora a disponibilidade de nutrientes e confere maior proteção química ao carbono da matéria orgânica.

Em solos não corrigidos, a CTC é frequentemente ocupada por Al3+ e H+, íons ácidos que inibem a microbiota, reduzem a disponibilidade de nutrientes e favorecem a acidificação contínua. A aplicação de corretivos substitui esses cátions por bases como Ca2+ e Mg2+, neutralizando a acidez e criando um ambiente mais favorável para as reações de estabilização da matéria orgânica.

Por isso, a correção da acidez do solo é prática indispensável à manutenção e ao sequestro de carbono. Os solos tropicais são naturalmente ácidos, com elevado teor de alumínio trocável (Al3+), o que compromete o crescimento radicular e, por consequência, o aporte de carbono via raízes. A correção neutraliza o H+ e o Al3+, eleva a saturação por bases e melhora o ambiente radicular, promovendo maior crescimento de raízes e maior retorno de resíduos orgânicos ao solo.

O cálcio proveniente da calagem e da nutrição com óxido de cálcio e magnésio, atua como ponte catiônica entre as cargas negativas da matéria orgânica e das argilas, promovendo a estabilização física da matéria orgânica e aumentando sua resistência à decomposição microbiana. Esse mecanismo de proteção química, por meio de reações de esfera interna com grupos carboxílicos e fenólicos, torna a ligação Ca-MOS mais estável e duradoura que aquelas com Fe ou Al.

O cálcio também exerce papel primordial no desenvolvimento radicular, tanto por sua ação direta na estrutura celular das plantas quanto por promover ambiente favorável à exploração do solo pelas raízes. Solos com limitação de Ca e alta saturação por Al3+ apresentam restrição ao crescimento radicular, resultando em exploração superficial do perfil e limitação na absorção de água e nutrientes. Controlando a acidez e aumentando a concentração de Ca2+. nas camadas subsuperficiais, amplia-se a exploração radicular.

A importância do sistema radicular para a dinâmica do carbono é dupla. Primeiro, as raízes vivas exsudam compostos orgânicos que alimentam a microbiota e favorecem o efeito priming, estimulando a decomposição de materiais orgânicos e a ciclagem de nutrientes. Segundo, após a morte das raízes, seus tecidos tornam-se fonte de carbono particulado, alimentando os compartimentos da matéria orgânica e contribuindo com a formação de novos agregados. Estima-se que mais de 60% do carbono que se acumula em solos tropicais é oriundo da biomassa radicular.

 

A Ferticorreção e o Ciclo Virtuoso do Carbono

A Ferticorreção propõe a gestão integrada da acidez e da nutrição do solo, criando um ambiente propício ao acúmulo de carbono. Ao corrigir a acidez com fontes como óxidos de cálcio e magnésio, promove-se a neutralização do Al3+, a elevação do pH, o aumento da CTC e o estímulo da atividade biológica.

Essa abordagem torna possível o desenvolvimento de sistemas radiculares mais profundos, o aumento da massa vegetal e o consequente aporte de resíduos orgânicos. O solo corrigido passa a ter melhor estrutura, maior retenção de água, menor risco de compactação e maior resiliência a estresses climáticos. Estabelece-se um ciclo de regeneração onde química, física e biologia se integram, com o carbono como elo central.

A correção da acidez do solo, ao promover a neutralização do alumínio tóxico e elevar o teor de Ca2+, gera efeitos positivos integrados: maior crescimento radicular, aumento do aporte de carbono via raízes, maior atividade microbiana e formação de agregados estáveis. A fertilidade química, a estrutura física e a atividade biológica do solo passam, então, a se retroalimentar positivamente, constituindo um ciclo virtuoso sustentado pelo manejo adequado da matéria orgânica e do cálcio.

A agricultura tropical sustentável depende da capacidade de manejar o carbono do solo como ferramenta de fertilidade, produtividade e mitigação das mudanças climáticas. Isso só é possível com um sistema integrado de correção e nutrição, como propõe a Ferticorreção. Em um cenário onde o carbono ganha protagonismo nas discussões sobre agricultura regenerativa e mitigação das mudanças climáticas, a Ferticorreção constitui a base técnica para transformar essa visão em realidade no campo, conjugando produtividade agrícola e sustentabilidade ambiental.

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